terça-feira, fevereiro 26, 2008

Felicidade = Jovialidade do ânimo


Li esse trecho de “Aforismos para a Sabedoria de Vida” (Arthur Shopenhauer) há algum tempo. Relendo-o agora a pouco, durante as férias, marcou-me de modo ainda mais especial. A filosofia em minha vida cumpre o papel de relembrar o que é claro e sensato para mim lá na minha essência. Mas, por vezes, é soterrado com frivolidades do dia-a-dia ou com as “ponderações sérias e preocupações importantes”.


“Os bens subjetivos, tais como um caráter nobre, uma mente capaz, um temperamento feliz, um ânimo jovial e um corpo bem constituído e completamente saudável - logo, de modo geral, o mens sana in corpore sano [mente sadia em corpo sadio] (Juvenal, Sát. X, 356) - são o que há de primário e mais importante para a nossa felicidade; por isso, deveríamos estar muito mais aplicados na sua promoção e conservação do que na posse de bens e honra exteriores.

Mas, acima de tudo, o que nos torna mais imediatamente felizes é a jovialidade do ânimo, pois essa boa qualidade recompensa a si mesma de modo instantâneo. Quem é alegre tem sempre razão de sê-lo, ou seja, justamente esta, a de ser alegre. Nada pode substituir tão perfeitamente qualquer outro bem quanto essa qualidade, enquanto ela mesma não é substituível por nada. Se alguém é jovem, belo, rico e estimado, então perguntemos, caso queiramos julgar sua felicidade, se é também jovial. Se, ao contrário, então é indiferente se é jovem ou velho, ereto ou corcunda, pobre ou rico; é feliz. Na primeira juventude, abri certa vez um livro velho e lá estava escrito: “Quem muito ri é feliz, e quem muito chora é infeliz” - uma observação bastante ingênua, mas que não pude esquecer devido à sua verdade singela (...). Por esse motivo devemos abrir portas e janelas à jovialidade, sempre que ela aparecer, pois ela nunca chega em má hora, em vez de hesitar, como muitas vezes o fazemos, em permitir a sua entrada, só porque queremos saber primeiro, em todos os sentidos, se temos razão para estar contentes. Ou ainda, porque tememos que ela nos perturbe em nossas ponderações sérias e preocupações importantes. Todavia é muito incerto que elas melhorem nossa condição; em contrapartida, a jovialidade é ganho imediato. Apenas ela, por assim dizer, é a moeda corrente da felicidade, e não, como o restante, mero talonário de banco, porque apenas ela torna imediatamente feliz no presente; por essa razão, é o bem mais elevado para seres cuja realidade tem a forma de um presente indivisível entre dois tempos infinitos. Assim, deveríamos antepor a aquisição e a promoção desse bem a quaisquer outras aspirações. Ora, é certo que, para a jovialidade, nada contribui menos do que a riqueza, e nada contribui mais do que a saúde”.